Na década de noventa quando Adriana
Calcanhotto lançou essa música o meu país passava por um dos momentos mais críticos
pós- redemocratização da sociedade. Ela foi/é bastante significativa de uma
realidade – naquele momento -, que vejo se repetir hoje. E mais uma vez com a
mesma impotência.
Naquele tempo de uma criança no
interior de uma cidade nordestina, que nem sabia ao certo o que era “cores de
Frida Kahlo”, mas que entendia perfeitamente o que se passava pelo “aperreio”
da minha família.
Uma menina completamente inocente
da realidade mais dura e cruel que assolava uma parcela significativa da
população, e que em breve também nos faria de vitimas. Mas uma menina que tinha
sonhos e que tinha esperanças.
Engraçado com a música tem essa
capacidade de transportar as pessoas a tempos que pareciam esquecidos e nos
fazem (re)viver momentos com a mesma intensidade de outrora.
E a pior ironia é ver os 13 anos
de esperança construídos a duras penas desmoronando em poucas canetadas e um
grupo de patifes com consentimento de alienados...
É.. Aquela menina cresceu. A música continua
tocando... E essa mulher hoje sabe quem é Frida, Almadôvar... Continua sem
entender a presa dos carros, das crianças.. Continua chorando ao telefone.. Continua “vendo doer a fome nos meninos que
têm fome”.. E todos os dias se pergunta: “Eu ando pelo mundo e meus amigos,
cadê? Minha alegria, meu cansaço? Meu amor cadê você? Eu acordei... Não tem
ninguém ao lado”
(Ana Elizabete Moreira de Farias)